Pulo do Lobo

Um blog para os apreciadores do silêncio ...

Nome:
Localização: Neta, Alentejo, Portugal

sexta-feira, julho 08, 2005

Estávamos todos à espera disto


www.pulodolobo.blogspot.com Posted by Picasa

É mais um dia negro na história da humanidade. A cegueira terrorista nao dá mostras de parar e as forças de segurança assumem , cada vez mais, a sua impotência perante este novo fenómeno contemporâneo. A persistirem estes ataques, perpetrados por radicais islâmicos, em capitais europeias prevejo dias difíceis para os cidadaos árabes que aqui residem. Os espanhois já nao conseguem disfarçar o "nojo" que sentem pelos marroquinos, os alemaes ainda nao se assumiram totalmente na questao turca . Esperemos pelos desenvolvimentos na Gra-Bretanha. Vivemos dias difíceis. Paz à alma das vítimas de mais um atentado cobarde .

quinta-feira, julho 07, 2005

Vamos à la Praia OH Oh Oh ...


www.pulodolobo.blogspot.com Posted by Picasa

Vamos mais uma vez à procura do nosso merecido descanso. É sabido que nem sempre o encontramos. Ou porque os parques de estacionamento nao chegam para as encomendas, ou porque a generalidade dos restaurantes nao assumem a qualidade como uma prioridade, ou porque a simpatia e educaçao dos nossos polícias deixa muito a desejar, etc, etc, etc.

No entanto, Lagos continua a fascinar com a sua extensa baia e com a possibilidade de se alternar entre a imensa Meia Praia e as lindíssimas praias recortadas que se estendem bem para lá da Dª Ana. A do Pinhao, apesar de cada vez ser menor o espaço, é aquela que me transporta para a pré-adolescência, sempre ocupado com a caça submarina, e para a adolescência propriamente dita onde o bronzeado, a obrigatoriedade de fazer amizade com as "camones" e o inenarrável ambiente do Parque da Trindade nos compelia, a sons de reggae, a rumar pela noite fora direitos ao Zapata .

terça-feira, julho 05, 2005

A carne que se esvai


www.pulodolobo.blogspot.com Posted by Picasa

A mao estendida sob o ventre rapado à pressa;
as pregas que teimam em cair nos folhos do lençol;
as molduras , aos molhos, lapidam o passado de Vanessa;
o "mecinho", esse, cumpre sem nunca tirar os óculos de Sol.

Alberto Caeiro


www.pulodolobo.blogspot.com Posted by Picasa

É através da carta enviada por Fernando Pessoa a seu amigo e crítico literário Adolfo Casais Monteiro, em 13 de janeiro de 1935, que tomamos conhecimento da gênese de Alberto Caeiro:
"( Basta de maçada para si, Casais Monteiro! Vou entrar na gênese dos meus heterônimos literários, que é, afinal, o que V. quer saber. Em todo o caso, o que vai dito acima dá-lhe a história da mãe que os deu à luz.)
"Ai por 1912, salvo erro ( que nunca pode ser grande), veio-me à idéia escrever uns poemas de índole pagã. Esbocei umas coisas em verso irregular( não no estilo Álvaro de Campos, mas num estilo de meia regularidade), e abandonei o caso. Esboçara-se-me, contudo, numa penumbra mal urdida, um vago retrato de pessoa que estava a fazer aquilo. ( Tinha nascido, sem que eu soubesse, o Ricardo Reis.)"
"Ano e meio, ou dois anos depois, lembrei-me um dia de fazer uma partida ao Sá-Carneiro – de inventar um poeta bucólico, de espécie complicada, e apresentar-lho, já não me lembro como, em qualquer espécie de realidade. Levei uns dias a elaborar o poeta mas nada consegui. Num dia em que finalmente desistira – foi em 8 de março de 1914 – acerquei-me de uma cômoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título, 'O Guardador de rebanhos'. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu mestre. Foi essa a sensação imediata que tive. E tanto assim que, escritos que foram esses trinta e tantos poemas, imediatamente peguei noutro papel e escrevi, a fio, também, os seis poemas que constituem a 'Chuva oblíqua', de Fernando Pessoa. Imediatamente e totalmente... Foi o regresso de Fernando Pessoa Alberto Caeiro a Fernando Pessoa ele só. Ou, melhor, foi a reação de Fernando Pessoa contra a sua inexistência como Alberto Caeiro ". (PESSOA, Fernando, 1969, p. 697).
O surgimento do mestre Caeiro desencadeia o nascimento de todos demais heterônimos:
"Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir – instintiva e subconscientemente – uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome e ajustei-o a si mesmo, porque nessa altura já o via. E, de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo. Num jato à máquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a 'Ode triunfal' de Álvaro de Campos – a 'Ode' com esse nome e o homem com o nome que tem. (...) " ( PESSOA, Fernando, 1969, p. 697).
Considerações de Ricardo Reis acerca de Alberto Caeiro
Nos apontamentos soltos de Ricardo Reis, encontramos as seguintes observações sobre o seu mestre:
"...a naturalidade e a espontaneidade dos poemas de Caeiro (...) são, ao mesmo tempo, rigorosamente unificados por um pensamento filosófico que não só os coordena e concatena, mas que ainda mais, prevê objeções, antevê críticas, explica defeitos, por uma integração na substância espiritual da obra." ( PESSOA, Fernando, 1990, p. 197).
" Mas como quem sente a Natureza, e mais nada. / E assim escrevo, ora bem, ora mal, / Ora acertando com o que quero dizer, ora errando, / Caindo aqui, levantando-se acolá, / Mas indo sempre no meu caminho como um cego teimoso".
"( Louvado seja Deus que não sou bom, / E tenho o egoísmo natural das flores / E dos rios que seguem o seu caminho/ Preocupados sem o saber / Só com o florir e ir correndo".
Poeta objetivo exprimindo em quatro de suas canções impressões inteiramente subjetivas, todavia, como o próprio Reis esclarece, não podemos dizer que houve erro, já que esses poemas "foram escritos durante uma doença e que, portanto, têm por força que ser diferentes dos seus poemas normais, por isso que a doença não é a saúde".
Notamos que a objetividade do poeta é abrandada em virtude do mesmo estar amoroso, fazendo surgir um pequeno desvio no seu paganismo, já que a idéia, essencialmente pagã, usa, por vezes, um traje emotivo.
Antes de estar amoroso:
"Mas não penso nele / Porque pensar é não compreender..."Porque quem ama nunca sabe o que ama"."Amar é a eterna inocência, / E a única inocência não pensar...""Pensar incomoda como andar à chuva / Quando o vento cresce e parece que chora mais".
Após estar amoroso:
"Penso em ti e dentro de mim estou completo". / "Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais"."Amar é pensar". / "Penso em ti, murmuro o teu nome: e não sou eu: sou feliz."
Esse "traje emotivo", como diz Ricardo Reis, não acontece abruptamente: nos poemas finais de O Guardador de Rebanhos, já podemos perceber o prelúdio da unidade idéia-emoção:
"As quatro canções que se seguem / Separam-me de tudo o que eu penso,Mentem a tudo o que eu sinto,/ São do contrário ao que eu sou...""Escrevi-as estando doente/ E por isso elas são naturais".
Em O Pastor Amoroso, não temos, em Caeiro, um poeta subjetivo, o que acontece é que o subjetivismo e o objetivismo se confundem, pois ele começa agora a refletir sobre as sensações.
"E sentiu que de novo o ar lhe abria, mas com dor, uma liberdade no peito"."Não sei o que fazer das minhas sensações".
Agora não são apenas sensações, são sentimentos:
"Todos os dias agora acordo com alegria e pena.Antigamente acordava sem sensação nenhuma: acordava".
É ainda Ricardo Reis que nos afirma que a coerência intelectual prepondera sobre a sentimental ou emotiva:
"Meto-me para dentro, e fecho a janela.Trazem o candeeiro e dão as boas noites,E a minha voz contente dá as boas noites."
Caeiro é o resgate do verdadeiro paganismo que o cristianismo fez com que se perdesse:
"Creio no mundo como num malmequer./ Porque o vejo. Mas não penso nelePorque pensar é não compreender... / O mundo não se fez para pensarmos nele(Pensar é estar doente dos olhos) / Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...Eu não tenho filosofia: tenho sentidos..."
É o inocente olhar pagão, é o sentir primeiro, sem a contaminação Cristista que insere a pessoa, pelo batismo, em uma cultura. É a reconstrução da essência pagã.
Reis o mais disciplinado de todos os heterônimos e o que mais se aproxima de Caeiro, finaliza seu comentário:
"Falta, nos poemas de Caeiro, aquilo que devia completá-los:a disciplina exterior, pela qual a força tomasse a coerência ea ordem que reina no íntimo da obra". "Exagero, porventura e abuso. Tendo aproveitado aressurreição do paganismo que Caeiro conseguiu, etendo, como todos os aproveitadores conseguido afácil arte secundária de aperfeiçoar, é talvez ingratoque me revolte contra os defeitos inerentes àinovação com que aproveitei. Mas, se os achodefeitos, tenho, embora os desculpe, que osapelidar de tais". (PESSOA, Fernando, 1990, p. 202).
Álvaro de Campos, o poeta das emoções, em suas Notas para a Recordação do meu Mestre, dá-nos uma visão encantadora de Caeiro:
"Conheci o meu mestre Caeiro em circunstâncias excepcionais".(...)"Vejo ainda, com claridade da alma, que aslágrimas da lembrança não empenham, porque avisão não é externa..."A expressão da boca, a última coisa em que se reparava – como sefalar fosse, para este homem, menos que existir –era a de um sorriso como que se atribui em verso àscoisas inanimadas belas, só porque nos agradam - ,flores, campos largos, águas com sol – um sorriso de existir, e não de nos falar.Meu mestre, meu mestre, perdido tão cedo!Revejo-o na sombra que sou em mim, na memóriaQue conservo do que sou de morto..."(PESSOA, Fernando, 1990, pp. 246-247).
Ao mesmo tempo que Pessoa, Reis e Campos, através dos seus comentários sobre o mestre, deixam claro para nós as suas características, traçam também a maneira como eles mesmos pensam:
-Fernando Pessoa "pensa" com a imaginação;-Ricardo Reis "pensa" com a razão;-Álvaro de Campos "pensa" com a emoção;-Alberto Caeiro "pensa" com a sensação.
Poemas de Caeiro – com relação ao conteúdo
Tanto Ricardo Reis quanto Álvaro de Campos colocam-se a par do estilo de Caeiro, contudo vale ainda salientar outros aspectos.
Uma das características marcantes dos poemas de Caeiro é o sensacionismo, manifestando uma visão objetiva das coisas. Em decorrência disso, temos:
-A sensação das coisas tais como são, sentindo tudo da maneira que é:
"Eu não tenho filosofia: Tenho sentidos... / E os meus pensamentos são todos sensações./
Penso com os olhos e com os ouvidos / E com as mãos e os pés / E com o nariz na boca".
-O sentir sem pensar que sente:
"Amar é a eterna inocência, / E a única inocência não pensar..."
-A inocência de olhar, eliminando os vestígios de subjetividade:
"Creio no mundo como um malmequer, / Porque o vejo. Mas não penso nele / Porque pensar é não compreender..."
-Abolição das fronteiras de tempo e espaço:
"Vê-las sem tempo, nem espaço, / Ver podendo dispensar tudo menos o que vê".
"Mas eu não quero o presente, quero a realidade; / Quero as cousas que existem, não o tempo que os mede"
-A aceitação de todas as desigualdades e injustiças sociais, estoicismo, aceitação da naturalidade da própria natureza:
Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os outros,/ Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,/Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno – /Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,/E encontra uma alegria no fato de aceitar – /No fato sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável".
Caeiro se limita a perceber tudo quanto há, todo o fenômeno, sem querer interpretá-lo: é um fenomenologisa puro.
"O luar através dos altos ramos,/ Dizem os poetas todos que é mais/ Que o luar através dos altos ramos / Mas para mim, que não sei o que penso, / O que o luar através dos altos ramos/ É, além de ser/ O luar através dos altos ramos, / E não ser mais/ Que o luar através dos altos ramos."
Caeiro é nominalista, recriando a visão primitiva das coisas pela linguagem:
"Porque só sou essa cousa séria, um intérprete da natureza,/ Porque há homens que não percebem a sua linguagem,/ Por ela não ser linguagem nenhuma".
Ele elimina de sua visão poética a metáfora e a imagem, pretendendo cingir-se ao objetivismo da pura identidade:
"Cada coisa é o que é".
O panteísmo ametafísico é outro traço marcante em sua obra. Deus é o conjunto de tudo quanto existe, é a universalidade dos seres. A problemática de Deus só tem sentido se Deus for o mundo em que vivemos. É a divinização da natureza.
"Não acredito em Deus porque nunca o vi./ Se ele quisesse que eu acreditasse nele,/ Sem dúvida que viria falar comigo / E entraria pela minha porta dentro/ Dizendo-me, Aqui estou!/ (...)/ Mas se Deus é as flores e as árvores/ E os montes e sol e o luar,/ Então acredito nele.
No seu misticismo naturalista, ele não nega a existência de Deus, nega o falar e o pensar em Deus:
"Pensar em Deus é desobedecer a Deus,/ Porque Deus quis que o não conhecêssemos./Por isso se nos não mostrou..."
Fernando Pessoa diz que Caeiro encara a natureza de um modo metafísico e místico, que é "o puro místico do sensacionismo".
"Se quiserem que eu tenha um misticismo, esta bem, tenho-o. / Sou místico, mas só com o corpo./A minha alma é simples e não pensa./ O meu misticismo é não querer saber./ É viver e não pensar nisso.
A negação da memória, a afirmação do instante também é encontrada:
"A recordação é uma traição à natureza,/ porque a Natureza de ontem não é Natureza./ O que foi não é nada, e lembrar é não ver".
Ele desembrulha-se e torna-se não homem, mas um animal humano, sem pretensões pré-concebidas, contentando-se com a gratuidade da Natureza e trazendo o Universo ao Universo.
"Ainda assim, sou alguém./ Sou o Descobridor da Natureza./Sou o Argonauta das sensações verdadeiras. /Trago ao Universo um novo Universo / Porque trago ao Universo ele-próprio".
A multiplicidade, o mistério, o devir das coisas:
"A Natureza é partes sem um todo./ Isto é talvez o tal mistério de que falam".
A verdade primordial se explica pela pluralidade da Natureza, que não existe como um todo.
Devia haver adquirido um sentido do 'conjunto';/Um sentido como ver e ouvir do 'total' das cousas/E não, como temos, um pensamento do 'conjunto'; / E não, como temos, uma idéia, to 'total' das cousas./E assim – veríamos – não teríamos noção do 'conjunto' ou do 'total',/ Porque o sentido do 'total' ou do 'conjunto' não vem de um total ou de um conjunto/ Mas da verdadeira Natureza talvez nem todo nem partes".
Utilizando-se do recurso da tautologia, Caeiro, com freqüência, diz a mesma coisa recorrendo a formas diferentes.
"Sei que a pedra é real, e que a planta existe./ Sei isto porque elas existem./ Sei isto porque os meus sentidos mo mostram./Sei que sou real também./Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,/ Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta./ Não sei mais nada. / Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos./ Sim, faço idéias sobre o mundo, e a planta nenhumas./ Mas é que as pedras não são poetas, são pedras; / E as plantas são plantas só, e não pensadores".
Resumindo, podemos afirmar que Caeiro:
-Não julga, exprime opiniões originárias;-Assume com naturalidade a verdade;-Não tem ciência; ele é a ciência;-Não é pagão; é o próprio paganismo;-É ingênuo e natural, infantil, sem malícia, em estágio de originalidade;-É o homem das sensações em estágio puro.Nele não há transcendência.
Finalizando essas considerações acerca do mestre Caeiro, cabe citar Eduardo Lourenço que diz:
"...só em sonho saímos do espaço inumano que nos cerca. Ele inventou, para poder respirar o irrespirável, as formas óbvias para existir no meio de uma civilização onde só se podia 'ser' não 'sendo'. ( LOURENÇO, Eduardo, 1983, p. 157).
"Pessoa (...) Foi (...) apenas uma sensível alma lusitana terrorizada pela própria audácia e sofrendo como uma danado a visão e a pressão de uma sociedade estruturalmente hipócrita, uma sociedade que se levanta todas as manhãs da cama imaculada onde nunca se passou nada que a perturbasse". (Idem, p. 159).

segunda-feira, julho 04, 2005

Do liberalismo à República


www.pulodolobo.blogspot.com Posted by Picasa

As novas ideias políticas dos filósofos franceses do século XVIII começam a entrar em Portugal no tempo do Marquês de Pombal. A censura, a polícia e a Inquisição não conseguem travar o aumento do número de «jacobinos» e dos «afrancesados», entre os quais figuram nobres e, sobretudo, homens de letras.
A luta da Inglaterra contra a França revolucionária envolve-nos na campanha do Rossilhão e obriga-nos a não acatar o Bloqueio Continental, decretado por Napoleão, sendo o nosso país invadido pelos exércitos franceses entre 1808 e 1810. Não conseguem, porém, nem prender a família real, que embarcara para o Brasil, nem subjugar a Nação, que se levanta em armas e, ajudada pelo exército inglês, vence os invasores em Roliça, Vimeiro, Porto, Buçaco, Linhas de Torres e outros lugares, e os obriga a retirar. As invasões francesas deixam o país arruinado e ocupado pelo exército inglês. O descontentamento alastra, reforçado pela propaganda das ideias liberais.
Após a malograda conspiração de 1817, comandada por Gomes Freire, triunfa a Revolução de 1820, organizada no Porto, sob a direcção de Manuel Fernandes Tomás, sendo eleita uma Junta Provisional do Governo Supremo do Reino, destinada a governar em nome do rei e a reunir Cortes Constituintes.
A Constituição de 1822 transforma a monarquia absoluta em monarquia liberal. Ao domínio soberano do rei substitui três poderes: o poder legislativo, atribuído às Cortes, formadas por deputados eleitos; o poder executivo, concedido ao monarca e aos ministros; o poder judicial, confiado aos juízes. D. João VI regressa, jura a Constituição e enceta nova fase governativa. No Brasil, D. Pedro, que ali ficara com a categoria de regente, recusa-se a voltar a Portugal e proclama a independência em 1822.
A situação política portuguesa deu origem à formação de dois partidos rivais: absolutistas ou realistas, que pretendiam a continuidade das instituições anteriores e liberais ou constitucionais, defensores da ordem nova. À primeira revolta realista de Trás-os-Montes, seguiram-se os pronunciamentos militares de Vila-Francada e da Abrilada comandados pelo infante D. Miguel. D. Pedro, considerado herdeiro do trono, outorga ao País uma Carta Constitucional em1826, destinada a substituir a Constituição de 1822, e abdica nome da sua filha. Durante a menoridade desta, D. Miguel deveria governar de harmonia com a Carta. Os seus partidários, porém, aclamam-no «rei de Portugal», enquanto os liberais formam na ilha Terceira um governo oposicionista, apoiado por D. Pedro, que deixara o Brasil. É organizada uma expedição que vai desembarcar no Mindelo. Desencadeada a guerra, são vencidas as forças de D. Miguel e assinada a Convenção de Évora Monte em 1834.
Os liberais voltam definitivamente ao poder e continuam a decretar as reformas iniciadas por Mouzinho da Silveira. D. Maria II, que subiu ao trono após a morte de seu pai, viu-se logo de início em sérias dificuldades para manter o equilíbrio entre os partidos que dividiam os liberais, uns defensores da Constituição de 1822 , os «radicais» ou «vintistas», outros da Carta Constitucional, apelidados de «conservadores» ou «cartistas». Daqui resultaram uma série de lutas, que perturbam o seu reinado: Revolução de Setembro e Belenzada em1836, Revolta dos Marechais em 1837, Revolta de Costa Cabral em 1842, Revolução da Maria da Fonte em 1846 e a Regeneração em 1851.

A acalmia foi-se restabelecendo lentamente, acompanhada de medidas de vasto alcance, entre as quais se distinguem as de Costa Cabral na agricultura, comunicações, cultura e administração, as de Fontes Pereira de Melo nos caminhos de ferro, estradas, telégrafo, instrução agrícola e industrial, e as de Passos Manuel na instrução primária e ensino liceal. É igualmente neste época que é abolida a escravatura e a pena de morte. É também importante referir o nome de Sá da Bandeira e as suas importantes providências de interesse para as colónias.
Em meados do séc. XIX, o continente negro começa a despertar a atenção das potências, que favorecem expedições de exploradores e cientistas. Portugal acompanha este movimento: às viagens do começo do século, como a de Silva Porto, seguem-se as de Capelo e Ivens, Serpa Pinto e António Maria Cardoso.
As grandes potências, começam, entretanto, a disputar a posse da África e, em especial, dos nossos domínios. A Conferência de Berlim, em 1884, fixa determinados princípios basilares que levam os Estados a delimitarem as fronteiras das colónias. A Inglaterra, não concordando com as nossas alegaçõe em favor da posse do território situado entre Angola e Moçambique, impõe-nos a sua vontade pelo Ultimato de 1890. Só então Portugal inicia as campanhas de ocupação africana, nas quais se distinguem Mouzinho de Albuquerque, Paiva Couceiro, Alves Roçadas e João de Almeida.
O fim da monarquia liberal é precipitado pela crise que sucedeu ao Ultimato. Renasce a agitação política, e o Partido Republicano, revigorado mercê dessa crise, organiza uma revolução que rebenta no Porto a 31 de Janeiro de 1891, sem, no entanto, conseguir triunfar.
As lutas partidárias tornam-se mais violentas. D. Carlos fecha o Parlamento e confia o governo a João Franco, mas é assassinado em 1908. D. Manuel II procura então evitar, sem o conseguir, a derrocada da monarquia, sendo proclamada a 5 de Outubro de 1910.a República.

I REPÚBLICA

Em seguida à vitória republicana as figuras da propaganda conheceram uma consagradora popularidade. Neste bilhete postal encimado pelo busto da República, figurandoBernardino Machado e José Relvas, Ministro do Governo provisório e Manuel de Arriaga o primeiro presidente da República, eleito em Agosto de 1911.
Após a proclamação do novo regime, constitui-se um governo provisório sob a presidência de Teófilo Braga. É Eleita uma Assembleia Nacional Constituinte, que vai discutir e aprovar a Constituição Política promulgada em 21 de Agosto de 1911, que estabelece um regime parlamentar. Ao Parlamento são atribuídos latos poderes, que podem levar à demissão do governo e à destituição do presidente da República.
O primeiro presidente eleito é Manuel de Arriaga. Mas a fragilidade do poder, as ambições e rivalidades partidárias , a instabilidade política e económica, certas medidas de carácter radical e laicista, tudo contribui para desacreditar as instituições. De facto esta é uma altura de grande instabilidade, consequência da existência de inúmeros partidos, tais como o Partido Democrático, chefiado por Afonso Costa, o Partido Evolucionista, dirigido por António José de Almeida, e o Partido Unionista, liderado por Brito Camacho. Ao mesmo tempo é uma época conturbada, de revoltas monárquicas e agitação social. Recorria-se até à greve, reconhecida por decreto de 6.12.1910, para protestar contra causas importantes, como e elevado número de desempregados. E, de certa forma, a instabilidade governativa e os governos efémeros contribuíam para aumentar o descontentamente popular. Por outro lado, as medidas de carácter laicista só contribuíam para desacreditar o governo. A devoção à Religião, usual no povo, contrastava com a lei de separação da Igreja e do Estado, expulsão de ordens religiosas e a confiscação dos seus bens, o reconhecimento do divórcio.
Em contrapartida, realizam-se importantes reformas no campo social, como a criação do crédito agrícola, o desenvolvimento da assistência pública e da protecção à infância, e no campo educativo é criada a Universidades de Lisboa.