Nina

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Com um profundo sentimento de revolta enterrei-te nas terras vermelhas do Alentejo profundo. Foi no primeiro dia do mês de Janeiro do ano de 2006. A minha mulher é que reparou num vulto branco, no meio das silvas, logo na segunda curva a seguir à saída do monte. Já andavas desaparecida há duas semanas mas pelo aspecto do teu cadáver nao estarias morta há mais de dois ou três dias. Nao apresentavas quaisquer ferimentos pelo que concluo que foste envenenada por algum badamerdas preocupado com os tendoes das suas ovelhas. Ainda nao tinhas cinco anos mas eras já uma verdadeira "cadela" . Nascida em ambiente caseiro, com todos os hábitos burgueses, cedo tiveste que migrar para esta terra que agora te coze o corpo. Por cá andaste 4 anos e nunca fizeste mal a ninguém. Medrosa como eras tomara que nao te fizessem mal a ti, nao era bichana ?. Pois alguém tomado de ares de importante, aliás, auto-investido do papel do Criador resolveu terminar com uma magnifica criatura que por todos era amada. Mesmo nao sendo beato vou rezar pela alma do teu assassino pois que por ti nao é necessário tanta era a tua graça e simplicidade. Vou rezar pela alma do teu assassino na esperança que o calculismo e a cegueira fria do estado primitivo do seu estro possa transformar-se em algo parecido contigo. Adeu Nina, vamos todos ter muitas saudades tuas e dos teus truques para ganhar umas festas ou umas fatias de fiambre. Que desperdício...

Zé da Neta